domingo, 4 de julho de 2010

Condição familiar é fator preponderante no desempenho escolar

Condição familiar é fator preponderante no desempenho escolar

Agência USP de Notícias em 06.04.2009 - 18h22

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As características do aluno e da família tem influência decisiva no aprendizado, inclusive na rede particular, onde fatores como o atraso escolar chegam a reduzir em até 26 pontos a nota média do aluno

Dados sobre o desempenho escolar de alunos da 4ª série em matemática, e a infra-estrutura das escolas públicas e particulares de ensino fundamental no Brasil entre 1997 e 2005, demonstram que o sistema educacional repete a estratificação sócio-econômica existente no País. As estatísticas analisadas em pesquisa da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP apontam grande influência da formação dos pais e das condições familiares na performance escolar dos filhos. O trabalho ressalta que o tamanho da escola e o turno de tempo integral também exercem efeito sobre o desempenho dos alunos.

A pesquisa da economista Ana Maria de Paiva Franco foi realizada a partir dos dados do Censo Escolar, anual, e do Sistema de Avaliação do Ensino Básico (SAEB), atualizado de dois em dois anos. “Os dados do SAEB fornecem uma amostra representativa das escolas de todo o Brasil, professores, alunos e diretores. Juntamente com as informações do censo escolar, foi possível montar um painel de escolas para analisar o impacto que as características sócio-econômicas dos alunos e suas famílias, e as características das escolas, professores, diretores e turmas excercem sobre o aprendizado”, conta a pesquisadora. No total, foram analisadas informações sobre 1.584 escolas públicas e 978 privadas, entre os anos de 1997 e 2005. O parâmetro do desempenho dos alunos foi a nota na prova de matemática da 4ª série, aplicada pelo SAEB.

 “No estudo estima-se uma função de produção da educação para medir a influência das variáveis de interesse, que podem ser alvo direto de políticas educacionais”, diz Ana Maria. “O resultado dos exames diferiu muito do ensino particular para o público, o que demonstra que a escola excerce sim um papel importante no aprendizado”. Ao mesmo tempo, verificou-se que as características do aluno e da família tem influência decisiva no aprendizado, inclusive na rede particular, onde fatores como o atraso escolar chegam a reduzir em até 26 pontos a nota média do aluno.

Na rede pública, o desempenho dos alunos que se declararam pardos e mulatos foi 2,38% melhor que os que se denominaram brancos. Com os negros, porém, a diferença desfavorável foi de 14% nas escolas particulares e 6% nas públicas. Entre estudantes que moram com os pais, o acréscimo foi de até 5 pontos no ensino privado, enquanto o ganho na rede pública foi de apenas 0,85 ponto. “A escola privada aproveita melhor o que o aluno traz da família”, conta a economista. “Quando a mãe possui ensino primário, o desempenho do filho é 3 pontos superior do que quando ela não possui estudo, e essa melhora se amplia conforme a formação das mães se estende ao ensino médio e superior”. Alunos que declararam trabalhar fora pontuam até 12 pontos a menos em escolas particulares, contra 7 pontos a menos nas públicas.


Integral


A pesquisa apontou que as características observáveis e passíveis de mensuração do professor, diretor e turma aparentemente não influenciam o desempenho do aluno. Já o número de matrículas apresenta impacto negativo. “Se a escola é grande demais, o desempenho dos alunos tende a cair, tanto nas escolas públicas quanto nas particulares”, diz Ana Maria. Os estudantes também mostram tendência a uma performance ruim nos exames em escolas privadas que mantém o mesmo diretor há mais de dez anos ou adotam projetos educacionais diferentes das políticas oficiais. “Entretanto, em escolas com turno maior do que cinco horas, os alunos conseguem maiores pontuações, mostrando as vantagens do ensino integral, pouco difundido na rede pública”, acrescenta.

A economista ressalta que a maior parte das variáveis que se mostraram no estudo em questões determinantes para o desempenho dos alunos não está associada diretamente à políticas educacionais, mas a condição sócio-econômica dos alunos. “Os dados das escolas públicas e privadas demonstram que a estratificação social existente no País se repete no sistema educacional, que não consegue romper essas barreiras, sendo mais uma força no sentido da reprodução da desigualdade”, aponta. “O desempenho tem um forte impacto na renda futura do aluno”.

Com base nos resultados da pesquisa, Ana Maria sugere políticas públicas para reduzir o tamanho das escolas e implantar classes de ensino integral. “Escolas com número elevado de alunos na série apresentaram piores desempenhos nas avaliações, enquanto a educação integral é um fator positivo, ainda que os dados do estudo demonstrem esse efeito principalmente em escolas particulares”, afirma. “Essas mudanças exigem maiores investimentos em infra-estrutura, construção de salas de aula, contratação de professores, ampliação de atividades extra-currículares, fornecimento de merenda escolar, entre outros”.

Segundo a pesquisadora, os recursos do Fundo para o Desenvolvimento e Manutenção do Ensino Fundamental e Magistério (Fundef) contribuíram para melhorar os insumos disponíveis nas escolas públicas, como bibliotecas e laboratórios de informática, e o número de professores com diploma de terceiro grau. “O Fundo proporcionou um gasto mais direcionado no ensino fundamental, diminuindo a diferença de insumos existente entre escolas públicas e particulares”, diz. “Aparentemente, o Fundef promoveu uma melhora na qualidade dos professores, em termos da proporção dos mesmos com o 3o grau completo, mas esse e outros efeitos precisam ser verificados em estudos mais específicos”.

Mais informações: (16) 3623-4548. Pesquisa orientada pelo professor Naercio Aquino Menezes Filho

quinta-feira, 17 de junho de 2010

SUPERVISÃO EDUCACIONAL: UM OLHAR PARA DESMISTIFICAR A IMAGEM DO NEGRO APRESENTADA PELO LIVRO DIDÁTICO

Na maioria das escolas públicas, os livros didáticos ainda são os materiais pedagógicos mais utilizados pelos professores, tendo em vista a escassez de outros tipos de materiais que possam servir como fonte para enriquecer o processo de mediação do aluno ao conhecimento.

Este livro é muitas vezes, a única fonte de leitura da maioria dos alunos, pois as famílias brasileiras não têm por hábito a leitura de outras fontes de informação como jornais e revistas. Esta adoção do livro didático como principal fonte de informação acaba por atribuir-lhe uma imagem perante os alunos como provedor do conhecimento pleno e socialmente aceito, o que pode servir como meio de reproduzir conceitos estereotipados e discriminatórios.

Muitos alunos negros não se reconhecem como tal, estes apresentam uma visão ruim em relação à raça negra, sendo assim, de si próprios.

Como vemos em Costa (2006,p.86):

(...) ninguém quer ser aquele que apanha, que trabalha para os outros, e sim aquele que é reconhecido socialmente. O movimento de identificação está intrinsecamente associado aos aspectos positivos atribuídos ao grupo e a si mesmo.

Por essa razão o papel do Supervisor Pedagógico se faz fundamental, no processo escolar, uma vez que irá tecer o seu trabalho enquanto articulador do processo pedagógico, e juntamente com o docente poderá construir uma visão crítica, em que este se sinta seguro para refletir, discordar por vezes, e apropriar-se do fazer pedagógico mais próximo da realidade dos educandos e que seja mais justo com todos os cidadãos.

O Supervisor Pedagógico é o agente formador e o agente transformador, e por isso deve preocupar-se em exercer um papel social, o seu olhar tem que ir muito além do que é apresentado pelos livros didáticos e muitas vezes pelo currículo e assumida de forma passiva pelos docentes.

O Supervisor Pedagógico é também responsável pela capacitação dos docentes, uma vez que melhor capacitados terão maior autonomia na elaboração das suas propostas pedagógicas.

O engajamento político-pedagógico, do Supervisor Pedagógico o leva a pensar a partir de uma sociedade pluricultural, onde os cidadãos precisam conhecer para respeitar e integrar, aceitando as contribuições de diversas culturas oriundas de diversas matrizes da sociedade brasileira. É por esta razão que o Supervisor Pedagógico precisa acompanhar o processo de reformulação do currículo educacional nacional que deliberou a implantação de Lei nº 10639, a 09 de janeiro de 2003, que torna obrigatório o Ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira, como conteúdo integrante dos currículos, vigorando os seguintes artigos:

Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.

§ 1ºO Conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo de História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação de sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas sociais, econômicas e políticas pertinentes à história do Brasil.

§ 2º- Os Conteúdos referentes à história e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e Histórias Brasileiras.

Art. 79-B. O calendário escolar incluirá 20 de novembro como “Dia Nacional da Consciência Negra.” (BRASIL, 2006).

Entende-se que esta Lei foi um avanço no processo de democratização do ensino, assim como na luta contra o racismo. Ela determina a obrigatoriedade do Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira, além de determinar a revisão dos currículos a fim de adequá-los a Lei, a qualificação dos professores e constante aperfeiçoamento pedagógico e que, a implementação da Lei fica a cargo do Poder Executivo.

Esta medida é uma iniciativa governamental de resgatar social e culturalmente a história da identidade de um povo, o povo brasileiro. O Supervisor Pedagógico será o mediador que poderá contribuir dando subsídios teóricos para que a Lei seja implantada na escola, tendo por meio uma nova prática pedagógica assumida pelos professores.

Realizando uma análise histórica da cultura indígena e africana, percebemos claramente que são apresentadas como aquelas oriundas dos grupos subordinados da sociedade e por isso, apesar de os atores da raça negra e indígena sempre serem representados nos mais variados meios de comunicação, seja ele livro didático ou através da mídia, suas aparições se dão de forma estereotipada e caricatural, estes não são apresentados como cidadãos. Essas representações do lugar do negro e do indígena refletiram no currículo escolar ao longo tempo como herança do período colonial.

A depreciação dos valores históricos e culturais de um povo, bem como a inferiorização de seus atributos, poderão produzir nesse povo, comportamentos de auto-rejeição, levando-os a negação de seus valores culturais e a preferência estética de valores culturais dos grupos mais valorizados nas representações. Diante das questões expostas acima, é considerado de extrema importância o trabalho do Supervisor Pedagógico, que irá analisar de forma crítica as representações que são feitas sobre a história da cultura negra, pelos livros didáticos, bem como essas representações são introduzidas na consciência de cada indivíduo.

Uma das muitas funções do Supervisor Pedagógico é fazer com que o currículo escolar seja efetivamente analisado, argumentado, para que o conteúdo a ser ensinado aos alunos seja condizente com a realidade histórica dos fatos. É importante que o Supervisor Pedagógico tenha compreensão de que o currículo tem que ser vivo e o currículo vivo é aquele que efetivamente contribui para a aprendizagem significativa dos alunos. Ensinar não é então, reproduzir história, é criticando o passado que dialogamos com o presente e construímos o futuro, sabendo sempre que o futuro é agora.

Como vemos em Grinspun (2006,p.34):

(...) O trabalho do Orientador Educacional diz respeito ao cotidiano escolar que, por sua vez, deve estar relacionado com o movimento da sociedade local e mundial. Ele procura explicitar as contradições, a partir de uma realidade concreta, provendo as articulações necessárias, as mediações possíveis, para que possamos ter uma educação mais justa, mais solidária e democrática.

Como já falamos o Supervisor pedagógico é aquele que irá auxiliar a prática pedagógica, esta prática não pode estar dissociada da realidade social, é o que Grinspun (2006), nos mostra quando fala das mediações que devem ser feitas pelo Orientador Educacional e que podem, também, ser atribuições cabíveis à prática do Supervisor Pedagógico, para que tenhamos uma educação mais justa, solidária e democrática.