quinta-feira, 17 de junho de 2010

SUPERVISÃO EDUCACIONAL: UM OLHAR PARA DESMISTIFICAR A IMAGEM DO NEGRO APRESENTADA PELO LIVRO DIDÁTICO

Na maioria das escolas públicas, os livros didáticos ainda são os materiais pedagógicos mais utilizados pelos professores, tendo em vista a escassez de outros tipos de materiais que possam servir como fonte para enriquecer o processo de mediação do aluno ao conhecimento.

Este livro é muitas vezes, a única fonte de leitura da maioria dos alunos, pois as famílias brasileiras não têm por hábito a leitura de outras fontes de informação como jornais e revistas. Esta adoção do livro didático como principal fonte de informação acaba por atribuir-lhe uma imagem perante os alunos como provedor do conhecimento pleno e socialmente aceito, o que pode servir como meio de reproduzir conceitos estereotipados e discriminatórios.

Muitos alunos negros não se reconhecem como tal, estes apresentam uma visão ruim em relação à raça negra, sendo assim, de si próprios.

Como vemos em Costa (2006,p.86):

(...) ninguém quer ser aquele que apanha, que trabalha para os outros, e sim aquele que é reconhecido socialmente. O movimento de identificação está intrinsecamente associado aos aspectos positivos atribuídos ao grupo e a si mesmo.

Por essa razão o papel do Supervisor Pedagógico se faz fundamental, no processo escolar, uma vez que irá tecer o seu trabalho enquanto articulador do processo pedagógico, e juntamente com o docente poderá construir uma visão crítica, em que este se sinta seguro para refletir, discordar por vezes, e apropriar-se do fazer pedagógico mais próximo da realidade dos educandos e que seja mais justo com todos os cidadãos.

O Supervisor Pedagógico é o agente formador e o agente transformador, e por isso deve preocupar-se em exercer um papel social, o seu olhar tem que ir muito além do que é apresentado pelos livros didáticos e muitas vezes pelo currículo e assumida de forma passiva pelos docentes.

O Supervisor Pedagógico é também responsável pela capacitação dos docentes, uma vez que melhor capacitados terão maior autonomia na elaboração das suas propostas pedagógicas.

O engajamento político-pedagógico, do Supervisor Pedagógico o leva a pensar a partir de uma sociedade pluricultural, onde os cidadãos precisam conhecer para respeitar e integrar, aceitando as contribuições de diversas culturas oriundas de diversas matrizes da sociedade brasileira. É por esta razão que o Supervisor Pedagógico precisa acompanhar o processo de reformulação do currículo educacional nacional que deliberou a implantação de Lei nº 10639, a 09 de janeiro de 2003, que torna obrigatório o Ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira, como conteúdo integrante dos currículos, vigorando os seguintes artigos:

Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.

§ 1ºO Conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo de História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação de sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas sociais, econômicas e políticas pertinentes à história do Brasil.

§ 2º- Os Conteúdos referentes à história e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e Histórias Brasileiras.

Art. 79-B. O calendário escolar incluirá 20 de novembro como “Dia Nacional da Consciência Negra.” (BRASIL, 2006).

Entende-se que esta Lei foi um avanço no processo de democratização do ensino, assim como na luta contra o racismo. Ela determina a obrigatoriedade do Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira, além de determinar a revisão dos currículos a fim de adequá-los a Lei, a qualificação dos professores e constante aperfeiçoamento pedagógico e que, a implementação da Lei fica a cargo do Poder Executivo.

Esta medida é uma iniciativa governamental de resgatar social e culturalmente a história da identidade de um povo, o povo brasileiro. O Supervisor Pedagógico será o mediador que poderá contribuir dando subsídios teóricos para que a Lei seja implantada na escola, tendo por meio uma nova prática pedagógica assumida pelos professores.

Realizando uma análise histórica da cultura indígena e africana, percebemos claramente que são apresentadas como aquelas oriundas dos grupos subordinados da sociedade e por isso, apesar de os atores da raça negra e indígena sempre serem representados nos mais variados meios de comunicação, seja ele livro didático ou através da mídia, suas aparições se dão de forma estereotipada e caricatural, estes não são apresentados como cidadãos. Essas representações do lugar do negro e do indígena refletiram no currículo escolar ao longo tempo como herança do período colonial.

A depreciação dos valores históricos e culturais de um povo, bem como a inferiorização de seus atributos, poderão produzir nesse povo, comportamentos de auto-rejeição, levando-os a negação de seus valores culturais e a preferência estética de valores culturais dos grupos mais valorizados nas representações. Diante das questões expostas acima, é considerado de extrema importância o trabalho do Supervisor Pedagógico, que irá analisar de forma crítica as representações que são feitas sobre a história da cultura negra, pelos livros didáticos, bem como essas representações são introduzidas na consciência de cada indivíduo.

Uma das muitas funções do Supervisor Pedagógico é fazer com que o currículo escolar seja efetivamente analisado, argumentado, para que o conteúdo a ser ensinado aos alunos seja condizente com a realidade histórica dos fatos. É importante que o Supervisor Pedagógico tenha compreensão de que o currículo tem que ser vivo e o currículo vivo é aquele que efetivamente contribui para a aprendizagem significativa dos alunos. Ensinar não é então, reproduzir história, é criticando o passado que dialogamos com o presente e construímos o futuro, sabendo sempre que o futuro é agora.

Como vemos em Grinspun (2006,p.34):

(...) O trabalho do Orientador Educacional diz respeito ao cotidiano escolar que, por sua vez, deve estar relacionado com o movimento da sociedade local e mundial. Ele procura explicitar as contradições, a partir de uma realidade concreta, provendo as articulações necessárias, as mediações possíveis, para que possamos ter uma educação mais justa, mais solidária e democrática.

Como já falamos o Supervisor pedagógico é aquele que irá auxiliar a prática pedagógica, esta prática não pode estar dissociada da realidade social, é o que Grinspun (2006), nos mostra quando fala das mediações que devem ser feitas pelo Orientador Educacional e que podem, também, ser atribuições cabíveis à prática do Supervisor Pedagógico, para que tenhamos uma educação mais justa, solidária e democrática.

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